segunda-feira, 5 de setembro de 2016



[Aroma da realidade]



E assim, sem mais, pouco a pouco as gotas marcavam o chão de madeira velha, um barulho quase tão sutil quanto o de uma folha caindo ao pé da mesa enferrujado.

Gotas de um vermelho encantador, com o reflexo da luz tornando-as ora como um vinho, ora vivas como o sangue, destoavam de todo o silêncio contido no tempo.


Tempo este tão vazio quanto às lembranças, quanto às ideias, tanto quanto a falta de planos, como os corpos ali presentes e apenas presentes, seguindo suas sinas.

Sem sombras, sem reflexos, sem espelhos, apenas portas e pequenas janelas, sem deixar espaço para sonhos. Tão pouco espaço para esperanças, apenas sobrevivem, destoados de toda a realidade que, volta e meia, retorna para lhes assombrar.

As palavras distantes não se faziam necessárias diante de tantos murmúrios; explicar já não estava presente em suas necessidades como pessoa, tão pouco o que restava de sua dignidade, estava ausente assim como sua alegria.

Os meses passam: fevereiro, março, maio, agosto, da vida, das sobras, da esperança em Deus, dor lentamente assimilada pelo seu olhar, em partes tristes e em certas horas vazio. Apenas mais um momento congelado, destoado, ignorado, inexistente para outros tantos, apenas mais uma lágrima que dificilmente faria brotar algo novo e, quem sabe, se possível e permitido, apenas mais um instante de dor.

Meia hora, uma ou duas passadas na eternidade dos segundos, quem saberia dizer? Indiferente para quem não vive, apenas sobrevive.

Apenas deixando as paredes ásperas de tristes histórias, olhos fixos no vazio; sentir o aroma espalhado pelo lugar, mistura do pouco que se tem com os sonhos que nunca realizará. Um adeus, um até logo, calçar os sapatos, deixar de lado, por momentos, a miséria e ir trabalhar.

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