Eu não te amo mais!
Assim sem mais, sem preliminares ou qualquer palavra de conforto ou doce,
ela rasgou com seu olhar todos os planos que fiz e nem cheguei a lhe contar. A
frase ficou batendo em minha mente sem parar, cada vez mais forte e sua voz
interrompe meu pensar questionando:
Vai ficar parado, olhando e sem falar nada?
Mesmo sem compreender a razão de tudo, mas imaginando que não é uma
decisão de ultima hora, digo para ela:
O que há para se falar, quando a
decisão já esta tomada?
Com sua voz tomada pela raiva, por causa da passividade de minhas
palavras, ela me segura pelos braços e indaga:
Não vai nem ao menos tentar, lutar pelo seu amor?
Penso comigo mesmo que o meu amor não signifique mais ser o amor que
compartilhava com ela e que ela chegar sem avisos ou tentativas de recuperar o que
achava perdido era tão egoísta quanto minhas palavras e minha forma de pensar.
Mas não digo e não esboço qualquer palavra do que pensei e quase que
murmurando num ato de sacrifício, falo:
Minha boca esta seca!
Como assim? De forma exaltada e se levantando rapidamente, dando um ou
dois passos para trás...
Você acha que beber vai resolver?
Roubo um pouco de ar, mesmo que pesado pelo momento e solto de forma
lenta, limpando minha garganta e livrando do corpo as palavras pesadas que ela pudesse
merecer ouvir.
E repito:
Minha boca esta seca... Não tenho palavras para dizer ou sentir, não
existe sentimento capaz de molhar meus lábios. Você tirou qualquer
possibilidade de argumento, nem ao menos deu um motivo ou razão, não posso
lutar sem saber para o que ou quem perdi.
Você ainda não entende?
Você ainda não entende?
Falava ela em voz alta, dando a entender que o culpado de tudo era
novamente eu.
É sua passividade, você se acomodou, falta emoção, falta aventura, eu
quero sentir a vida, me sentir viva! E tudo que tenho são alguns momentos de
distração com você.
Você deixou nosso amor morrer!
Mas ela queria um homem ou o “Indiana Jones”, pensei comigo mesmo.
Mas eu não posso fazer tudo sozinho, falei em tom de questionamento.
Mas você é homem dizia ela, quase que jogando todas as responsabilidades
nas minhas costas.
Pensando comigo mesmo me perguntava: Você sempre lutou por direitos
iguais não? Sempre falou em dividir tudo, agora toda a culpa é minha?
Mas minha discussão mental não ousava sair pela boca e encontrar seus
ouvidos, pois sabia que ela já havia decidido e eu estava apenas esperando o
golpe de misericórdia, a corda para a forca e pouco a pouco seus olhos
indicavam isso.
Aquela discussão toda, aquela tensão toda era apenas para deixar um
culpado, alguém responsável pelo fim, e no caso estava claro que era eu.
Então apenas observava seus gestos, grotescos, mas calculados, ate sua
boca proferir em forma de lança o golpe final:
Eu conheci “alguém”!
Naquele momento me passou varias coisas pela cabeça, como segurar seu
pescoço com minhas mãos até sua boca ficar muda e seca. Pensei em devolver da
mesma forma, mas minha mente apenas pensava alguém? Homem, mulher, amante? Uma
aventura, um tesão perdido?
Eu me sinto bem com ele, dizia ela... Como que fazendo a lamina rasgar
ainda mais meu corpo, matando aos poucos o que sentia por ela.
Não conseguia mais prestar atenção nas suas palavras... Meus olhos não
conseguiam mais olhar fixamente para ela, sentia vergonha e ao mesmo tempo
nojo.
Então ela profere como sentença final:
Estou indo embora, espero que compreenda. Virando suas costas e deixando
para trás o equivalente a nada pra ela e tudo para minha pessoa. Sem remorso em
busca de sua felicidade, mesmo que custasse minha tristeza.
Mais uma vez fique calado apenas observando, pois minha boca continuava
seca, mas agora, além disso, também se sentia morta.
Pablo Danielli
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