sábado, 30 de junho de 2018


Muito além das entrelinhas

Existe algo dentro de você, que não percebe ou consegue ver em determinados momentos, mas que ligeiramente te conecta com o mundo, com as pessoas e objetos. Mas você sente, sabe que está lá, adormecido e pequenos olhares e gestos o fazem despertar.

Quando nos deparamos com algo que nos chama atenção, toca e nos prende de forma única, tão sutil, acabamos por descobrir pequenos tesouros e que provavelmente nenhuma outra pessoa no mundo entenderá ou dará o mesmo valor.

Pode ser em forma de uma frase, uma fotografia em preto e branco, uma caneca velha ou até mesmo um empoeirado LP, mas tão valioso quanto ouro ou diamante. O apego nos faz ter outra dimensão de valores, o que era errado se torna certo, o que é inútil acaba por ganhar nova vida.

Nossos olhos lentamente percorrem por entre pequenos objetos, apreciando, lendo e relendo suas cores, seus detalhes, passamos de simples admiradores para entendermos muito além do que se esta nas entre linhas. Começamos a compreender o sentimento que exerce sobre nós determinado nossos desejos, como se pudéssemos sentir sua energia. Quando percebemos, um acaba pertencendo ao outro, a identidade acaba por ser completa, mesmo que isso signifique ser estrando diante de outros olhos ou outras manias.

E esse visitante acaba por nos dar algo mais, diferenciando-nos uns dos outros, nos envolvendo em universo paralelo a realidade tão crua que vivemos. Começamos a sentir aromas diferentes, começamos a perceber cores que não sentíamos e há viver mundos que não imaginávamos.

Pablo Danielli

quarta-feira, 27 de junho de 2018


[Quando a estrutura fracassa]


Aprendemos deste o tempo de colégio, que todos participamos de uma democracia, temos hierarquias e nossos representantes são eleitos pelo voto popular. Aprendemos a respeitar leis e que de certa forma temos direitos e deveres, o que a principio no papel parece ser lindo e eficaz.

Passa o tempo e acabamos por descobrir, que é função do governo garantir bom atendimento na área de saúde, segurança para todos e educação de qualidade, inevitavelmente começamos a nos deparar com questionamentos, se é função do governo aplicar a pesada carga tributaria para o bem do povo, por que o povo não o recebe da forma correta?

Vemos com o passar das eleições que entra partido e sai partido, as ideologias nas propagandas são diferentes, mas as atitudes na realidade são as mesmas. Acusações de privatizações e corrupção.

O governo é uma estrutura que teoricamente não visa lucro, ele recolhe impostos e com estes impostos ele melhora a qualidade de vida de seu povo. Quando ele privatiza ou terceiriza um serviço, ou entrega um bem publico para ser dirigido por pessoas do núcleo privado o foco muda, passa-se a visar o lucro, pois diferente do governo empresas que assumem esse papel visam cifras e muitas vezes não o beneficio do povo.

Mas os impostos não diminuem mesmo essas estruturas estando administrados por terceiros, uma despesa a menos para o governo e uma carga tributaria a menos para o povo, um bom sonho. Mas não basta apenas demonstrar incapacidade de gerir a maquina publica, é necessário corrompe-la, desviar a verba publica.

Hoje em dia a politica é vista como uma forma de enriquecer, muitas pessoas entram nesse meio não para melhorar suas cidades e estados, mas porque sabem que os salários fora da realidade o faram mudar de patamar, ter melhor vida, já que o trabalhador comum pena com uma renda que beira o vexatório.

As manchetes de revistas e jornais são sempre as mesmas, denuncias e mais denuncias, apenas um reflexo das escolhas mal feitas e da cultura imposta no país. Mas em determinados momentos, raros momentos a estrutura racha, fica praticamente insuportável suporta-la, é quando os protestos começam a ganhar força.

Está escrito na história do mundo, grandes mudanças somente acontecem quando o povo se une por um ideal, não importa a nação, quando as pessoas chegam ao seu limite, quando elas saem do estado de letargia se dá inicio a mudanças significativas na estrutura e na cultura de um país.

Isto não é mais raro de acontecer, com o avanço da comunicação, do esclarecimento, da informação na velocidade da luz, está cada vez rápido tomar conhecimento da dilaceração que existe na politica. O que nos remete a varias perguntas como se estamos no modelo de economia certo, se estamos no modelo politico correto e se estamos no modelo de sociedade ideal.

Ter cidadania, ser justo e correto nem sempre é aceitar o que se apresenta como verdade, é questionar e buscar mais respostas, e se não encontra-las, exercer o direito legitimo de liberdade de expressão. Talvez as pessoas tenham confundido, pagar impostos, calar-se diante das indiferenças, estar confortável em seu sofá muitas vezes é estar tendo uma existência mecânica, viver muitas vezes exige riscos e sentir-se vivo é lutar pelos seus ideais, mesmo que muitas vezes sozinho.

Pablo Danielli

segunda-feira, 25 de junho de 2018


[Calcanhares]


Lentamente os calcanhares tomavam o corpo de assalto, voltando os passos dados, como uma tentativa de retroceder no tempo. Em vão, assim como o olhar lançado ao espaço vazio, cortando os sentimentos confundidos, em alguns momentos parecia ser amor e em outros parecia apenas mais uma noite de solidão.

Não havia a possibilidade de um dialogo por menor que fosse a vontade, pois as palavras não faziam qualquer questão de confortar. Era apenas alguém, um objeto, como tantos outros, que ali se deitaram na esperança de esquentar um corpo, preencher um coração, fingir uma emoção.

Crônicas absurdas lidas ao avesso, mais parecidas com notas musicais tortas, para combinar com a imperfeição dos corpos e todos os defeitos que se tentavam esconder, mesmo com o apagar das luzes, o escuro consegue enganar os olhos, mas não consegue confundir a mente.

Não há roupa ou maquiagem suficiente, para tapar tantos prazeres que a carne, mesmo a boca dizendo não, insiste em se entregar. Pode ser um alguém, pode ter um nome ou ser dono de um sorriso, logo abandonado, logo esquecido e quando acaba a sede, por momentos se mostra triste.

Olha as paredes, observa o teto, faz criticas pela falta de organização, pela falta de bom gosto na decoração. Fala e revela para si mesmo que aquela é a única vez, a ultima tentativa de ser mais individuo vazio.

Pensa em alguma desculpa, sem a necessidade de ser convincente, apenas como rota de fuga ou ponto final. Imagina uma boa cerveja gelada esperando por você. Não se importa em saber que não haverá próxima vez.

Essa é a vida, são assim que as escolhas ditas banais são feitas, parecendo filmes com roteiros programados. Ouve um sussurro ao fundo, mesmo tentando ignorar, responde com a voz calma, para não entregar... Vai fechar a porta, não vai ligar e se o acaso ajudar, será apenas um pecado a mais para perdoar.



Pablo Danielli

sábado, 23 de junho de 2018

[Calos]


Os calos dos pés não folgavam e suspiravam lamentos, por entre os furos dos sapatos surrados. A cada pisar o ar saia em uma desorganizada sincronia, entre os dedos que se esfregavam e diziam:

Vida vadia!
Vida vadia!
Vida vadia!

Há muito não sabia o significado da vida mansa, escolheu não seguir regras e ficou escravo de suas palavras. Açoitando seu corpo para sempre, ir em frente e nunca olhar para trás, como se trás fosse passado, fosse outra vida e não aquela coisa com planos que deram errados.

A cada passo no asfalto que queimava, sua mente pensava: Não há sol que sufoque para sempre e nem chuva que eu sempre lamente. Há muito tempo sem saber o que é sentir, não poderia imaginar se seus dedos ralados ou seus sentimentos dilacerados o impediam de ver e crer no homem que aparece no comercial da TV.

Mas não se sentia estranho, tão pouco diferente, entre tantas pessoas vazias o seu vazio preenchia algum espaço, um corpo frio. Em meio a tantos olhares sem sentido, ainda possuía sua liberdade falsamente vivida.

E a cada passo dado seus pés repetiam:

Vida vazia!
Vida vadia!
Virou rotina!




Pablo Danielli

[A morte do jornalismo]

A quantidade de likes é mais importante que o fato em si, está é a máxima do atual jornalismo. Isso mesmo caro leitor, a atual forma de buscar acesso precisa de manchetes escandalosas e que muitas vezes nem ao menos representem o conteúdo contido na matéria.
            O jornalismo perdeu o rumo com a chegada das mídias sociais, não soube se adaptar aos novos tempos, a rapidez com que as informações surgem deixou obsoleto as revistas semanais e os jornais de domingo. Ninguém, absolutamente ninguém quer pagar para ler o passado, a internet mostra na hora o acontecimento e ao vivo sem ser necessário pagar para ter a informação.
            Grandes corporações começaram definhar, lucros desabaram e cortes se fizeram necessários. Naturalmente a qualidade e conteúdo desceram a ladeira e muitos estão na sarjeta, praticamente sobrevivendo como veículos de fofocas em forma de sensacionalismo barato.
            É preciso compreender que essa revolução tecnológica também mudou a forma de arrecadar dinheiro e patrocínios de marcas e produtos. Tudo começou a ser medido em cliques, like e compartilhamento, quanto maior o acesso mais facilmente se move o dinheiro do patrocínio. Oferta e procura, lei básica do mercado.
            Os “profissionais” da mídia atentos a essas mudanças, também notaram uma mudança de comportamento do leitor em si. Na era da rapidez de informações, matérias com muito conteúdo fazem o leitor perder o interesse, fazendo com que o acesso as páginas de jornais e revistas diminua.
Em um país aonde a educação é desprezada, escolas estão no século passado e alunos em colégios públicos garantem passagem de serie apenas para cumprir metas do governo, ler e compreender o que se aparenta é luxo de poucos e dedicados alunos. Portanto caro leitor, se você se encontra neste momento lendo e compreendendo este trecho, pode se considerar acima da média do país.
            Desta forma deu-se início a um novo momento no jornalismo global, a disseminação da falsa informação, sem checagem dos fatos, sem pesquisa do que é escrito, apenas replicando manchetes de revista para revista, de jornal para jornal. Profissionais preguiçosos e mimados na esperança de serem descolados e com ideologias baratas invadem redações, uma patrulha da vida alheia é imposta na mídia de forma geral.
            Explode o termo “FAKE NEWS”, nesse novo momento o importante é o like e para isso não é necessário profissionais bem remunerados e capacitados, basta estagiários e pessoas sem escrúpulos para fazer qualquer coisa para ganhar dinheiro. A verdade se tornou fator secundário, o escândalo e o compartilhar a manchete é o fator primordial.
            A audiência a qualquer custo, a verdade manipulada e mastigada pra impressionar grande parte das pessoas. Cria-se novos fatos, esperando que a curiosidade das pessoas seja maior que sua vontade pela verdade. O tapa na cara e o julgamento em praça pública, caso se descubra o erro ou a mentira disseminada é a regra, apenas um pedido de desculpas em notas de rodapé quase imperceptível é permitido na maioria das vezes.
            O jornalismo como conhecemos está morto! A apuração dos fatos, imparcialidade e ética profissional são palavras apenas de dicionário, passado que volta e meia assombra os caçadores de like. E tudo que questione esses fatos, essa nova realidade é achincalhado e tantos adjetivos são acrescentados que não caberia em uma simples pagina.
            Tudo aos poucos se caminha para guerra ideológica, aonde pequenos indivíduos tentam desmentir grandes veículos de informação. Políticos tentam sem descansar encontrar meios de restringir notícias e acesso a informação da forma mais variada possível.
            Telejornais tentam se manter influentes, pseudos pensadores e especialistas afinam o discurso na mesma direção para que se crie uma única e incontestável verdade. Um pequeno grupo que deseja falar em nome de milhões.
            E você caro leitor, fica em meio a esse fogo cruzado de informações, sem saber o que ler, acessar ou em quem acreditar. Manchetes que mais parecem frase de outdoor, vídeos do youtube de pessoas que dizem lutar pelo certo. Até mesmo programas de televisão que mesmo sem audiência se dizem relevantes para o bem comum.
            O fato é que o atual jornalismo e veículos de comunicação estão mortos, apenas definhando como moribundos, tentando se manter relevantes mesmo sabendo que grande parte da população não se importa mais. 
O like não enterrou a verdade, apenas mostrou que muitas pessoas não sabem lidar com os fatos, como o de por exemplo, ser questionado pelas suas próprias palavras. A notícia na internet é rápida, porém ficará sempre na rede, a espera para ser relembrada, uma oportunidade de apontar o dedo para uma notícia falsa.
                O jornalismo está morto, porém as pessoas não estão. A notícia está sem casa, sem morada e solta pelo ar. Em tempos de desinformação um rosto famoso não é garantia de verdade absoluta, geralmente são usados para vender produtos. Desconfie da informação, confie nos fatos.

Pablo Danielli

quinta-feira, 21 de junho de 2018


[A falta da compreensão]



Eu não entendo,
O jornal não fala?
O governo disfarça...
Enquanto a farra não para!

Vivemos dias de incompreensão, de idéias, de palavras e de motivos. A principio poderia dizer que a população sofre de uma crise aguda, no que se diz respeito a caráter e honestidade e que automaticamente esta amplamente estampada na grande maioria de nossos políticos.

O descaso com a saúde, com a segurança e com a educação não surgiu nos últimos dias, nos últimos anos, apesar de sermos uma democracia que engatinha em comparação com tantas outras milenares pelo mundo, que também possuem problemas parecidos.

A falta de respeito e a nossa mania de acreditar, que com o dinheiro se compra tudo, possuem raízes mais antigas que estes novos dias que se apresentam conturbados.

O brasileiro começou a se importar, mas o quanto da população realmente se importa? A classe rica que começou a perder dinheiro ou a classe pobre que quer um pouco mais para parecer maneiro? Existe algum motivo que não seja o interesse próprio?

Parece que estamos aos poucos saindo de uma zona de conforto, mas não porque desejamos e sim porque a indiferença está batendo a nossa porta, cobrando providencias, a miséria esta estragando a vista da janela de nossas salas e isto incomoda.

O plano de saúde não é mais garantia de bom atendimento, as mensalidades altas de escolas privadas não garantem futuro promissor para seus alunos e hoje temos que pagar para ir e vir em nossas estradas.

Estamos levantando de nossas camas e saindo as ruas porque mexeram em nossos bolsos e não em nossas mentes. E como bons brasileiros, será que queremos mais do que podemos?

Somos escravos da falta de opções (eleitoral, cultural, emocional), da falta de leitura, da falta de compreensão do que nos falam, do que nos empurram e do que nos ditam. Falamos em mudanças mas somos os primeiros a atacar, atacamos a religião, agredimos a cor, ficamos enojados com opção sexual. Apenas olhamos para os lados e disfarçamos.

Vivemos um momento que em frente a outras pessoas falamos o que todos desejam ouvir, mas no nosso intimo dilaceramos palavras desrespeitosas, impiedosas sobre tudo e todos.

Não somos capazes de analisar um contexto, apenas pegamos uma fração, pequena parte do que nos agrada e fazemos disto uma bandeira, mesmo que rasgada.

Bons governos criam pensadores, maus governos criam eleitores, a formula aplicada é simples:

Descaso + Corrupção + Falta de solução + Manipulação= País escravo.

Acredito que a mudança não acontecera em poucos anos, levara décadas e séculos, possivelmente muitos não estarão vivos para ver tais maravilhas acontecerem.

Maus políticos para nossa sorte também envelhecem e morrem, os novos devem ter consciência disto também. O homem não teme a prisão no Brasil, principalmente quem tem dinheiro.

Mas teme ao morrer em ir para o inferno, pois apesar da alienação que religião provoca muitas vezes, ela tem um papel fundamental na ordem social.

Acreditar em céu ou inferno muitas vezes é o único fator que faz um ser humano mudar, não porque quer, mas porque teme o desconhecido. Ironicamente a religião de alguma forma, pode sim salvar.

Salvar-nos de uma esquerda aterrorizadora e de uma direita macabra, nos salvar da lábia, que insistimos em acreditar. Acreditamos na foto bonita, no discurso bem elaborado, acreditamos que não cometeram erros no passado.

São ditas mentiras e mais mentiras para esconder a verdade, que todos temem e que todos esquecem.

O nosso pequeno ciclo vicioso de pequenos favores e prazeres:

Tempo para esquecer + boa propaganda + dinheiro + favores = Eleição

Você caminha por pedaços de calçadas esburacadas, reza para quando chover não alagar a sua casa e se tiver sorte, não ser atropelado por algum individuo com pressa em te passar para trás. Somos apenas um reflexo de uma possível civilização, somos uma sombra de algo chamado humanidade.

Aprendemos a fazer promessas, mas não sabemos como cumpri-las, assim é na vida pessoal, assim é na vida publica, com nossos amadores políticos.

Poucos ainda se perguntam, se as manchetes de grande parte dos jornais maquiam a realidade, se a televisão fantasia a vida e a internet esconde teorias, no que podemos acreditar, como podemos compreender o que cerca esses olhares perdidos.

Somos um pequeno grão de areia, em um oceano de dizeres, que inundam nossa mente sedenta de conforto. Temos em parte o desejo pela verdade, mas falta a vontade de vê-la... Pois perceber que somos parte de um todo, de uma equação que não esta balanceada, é ver que somos parte de um problema.

E como bons seres, preferimos ver a pele trincada de nosso vizinho, ao cuidar de nossas rugas disfarçadas com alguns sorrisos.

Nosso estado latente de inércia, não nos permite aplicar moralismo algum, pois conta à lenda que como bons brasileiros, temos o dever de tirar proveito de qualquer falha na história.

Acomodação + Julgar + Promessas + Falso moralismo = Espelho.

Pablo Danielli



[Epifania]

Ciclos começam com choros sutis 

E terminam ao som do silêncio, 

Sem ao menos se perceber. 



Passando a vida em casulos, 

Maturando... 

Esperando até o último instante de calor, 

Para ser luz. 



Todo o intervalo 

Nele continho, 

Cheio ou vazio... 

Apenas chacoalham a casca, 

Mas não a quebram. 



Alguns ciclos levam dias ou meses, 

Outros anos... 

Mas a maioria precisa de décadas 

Para compreender. 



E mesmo assim, tornamos a voltar, 

Em novas cascas, sentindo outros ventos. 

Por não compreender os significado 

Da seiva, que a arvore da vida, 

Nos serve para despertar. 



Em quantos campos diferentes é necessário estar? 

Em quantos galhos diferentes é possível fazer morada? 

Quantas vezes 

O que chamamos de tempo, 

Deve nos engolir... 

Para compreendermos? 



Ciclos se encerram 

A todo momento, 

Enquanto outros 

Insistem em começar. 



A epifania da existência. 

A quebra do casulo. 

O abraço do universo. 

O compreender além vida. 

Partir, para existir. 





Pablo Danielli 












terça-feira, 19 de junho de 2018


[O espetáculo da morte.]

“Desde o inicio dos tempos à tragédia e a morte, andam juntas na curiosidade humana. Somos atraídos pela tragédia e aprendemos com o passar do tempo a manipula-la, podemos usa-la para criar “vilões” ou para imortalizar “heróis””.


Não existe morte vazia, todo acontecimento deste tipo vem com alguma história, com alguma lagrima para ser exibida. Algumas apenas têm mais destaque, devido o apelo midiático que existe em pró de algum interesse pré-estabelecido.

Todos os dias em um país chamado Brasil, centenas de pessoas morrem, por atropelamentos, pela violência, pela falta de hospitais, pelas mãos da corrupção e da covardia escondida em propagandas politicas.

São muitas mulheres e homens, de família ou não, que deixam seus lares sem ao menos saber se vão voltar ou virar um numero, uma estatística, manchete ou rodapé do jornal, conforme seu poder aquisitivo.

Passam os dias, os meses e lá se vão vidas e mais vidas e tudo o que nos é oferecido são teorias vazias, tentativas pífias de achar culpado, como se a violência pré-estabelecida, fosse simplesmente culpa de uma pessoa ou grupo que se denomina isso ou aquilo.

A violência não está enraizada na cultura brasileira, todos nascemos puros, sem saber o que tal ato significa, aprendemos a ser violentos como mecanismo de defesa de uma sociedade falida, não financeiramente, mas falida em sua educação, em sua segurança, em seus dizeres éticos.

Nenhum ato de violência pode ser justificado, como fim de uma melhoria, cujo poder publico não é capaz de estabelecer por meio de leis.

Em um país democrático deve sempre se acreditar nos mecanismos da justiça e quando esta não consegue dar uma resposta à altura da necessidade da população, deve-se cobrar dos governantes por soluções.

Não apenas tentar resolver com nossas próprias mãos, assim nos tornamos reféns de um ciclo de tragédias, estabelecidos por uma ação que gera reação e parece quem nem todos estão preparados para tal consequências.

E este espetáculo da morte é explorado sem nenhum pudor, com a justificativa de “mostrar” a realidade, quando na verdade o único intuito é vender jornais e buscar ibope para televisão.

Colocam-se viúvas e órfãos em matérias que buscam tocar o que nos resta do lado humano, criando “heróis” e apontando “vilões”, embora fique sempre clara a falta de soluções.

Está criada uma guerra moral e ética nos país, o governo simplesmente deixa claro que ou você a favor ou é contra, se excluiu o meio termo do pensamento racional.

As pessoas não podem mais demonstrar seus pensamentos, pois as chances de serem agredidas pelos meios virtuais são enormes, isto quando a agressão física não vira realidade.

Em meio a tanta incompreensão o silencio parece ter se tornado a resposta mais segura a ser dada. Quando na verdade deveríamos falar e defender nossos pontos de vista.

Independente de agradar ou não a todos que o ouvem ou o leem, mas o que realmente perturba e deixa muitas pessoas sem sono é o silencio dos governantes, que se mostram despreparados para lidar com estas novas formas de expressão.

Ao contrario, parecem todos adolescentes, tentando impor sua opinião na “força ou no grito”. Poderia algumas pessoas, se reunirem em uma mesa redonda, para debaterem, mas a esta altura a mesa já foi desmontada e feita como “escudo e porrete” para protestar ou se defender.

Afinal, somos todos animais ou seres racionais?

Pablo Danielli

domingo, 17 de junho de 2018


[A estupidez humana]


Nenhuma pessoa nasce racista, ela aprende a fazê-lo no seu dia a dia e com exemplos geralmente de pessoas que servem de espelho.

Somos uma sociedade racista não apenas no que se diz respeito à raça, mas somos em um todo, nas pequenas coisas... Classe social, hierarquia, religião, opção sexual, entre outros tantos que poderia ser citado, o que não falta é “motivos” para ter tal atitude.

Somos um aglomerado de pessoas, cuja conveniência optou por chamar de sociedade. Existe racismo até mesmo nestas palavras ao descriminar a opção de liberdade de escolha e liberdade de expressão, mesmo que isso signifique palavras de ódio ou propagação de violência.

O preço dessa estupidez humana é a escravidão pelas palavras, que muitas vezes tem o mesmo peso que um chicote, aonde não deixa marcas para serem vistas, mas dilacera o intimo, deixa qualquer pessoa destruída por dentro.

Em uma sociedade aonde o dinheiro dita a regra, pessoas com menos poder aquisitivo, em sua maioria são vistas como inferiores, por não terem uma boa educação, acesso a cultura e “diversão” que se pode pagar.

O que nos leva a uma questão muito interessante, se em teoria quem tem mais acesso e melhores condições, ao desenvolver sua educação e cultura, deveria lutar para que seus iguais tivessem o mesmo direito. Mas o que se observa, são pessoas lutando para ter cada vez mais e deixar outros tantos com cada vez menos.

O racismo demonstra todo o individualismo que escondemos dentro de cada um de nós. Ao pratica-lo nos colocamos em uma condição superior, imaginada apenas por nós. Fechamo-nos para a sociedade para nos proclamarmos senhores da razão e os outros que se danem.

Somos hipocrisia no mais puro significado da palavra, se antes tínhamos as correntes, hoje temos as palavras, se antes tínhamos chicotes, hoje temos os olhares de desprezo e se antigamente tínhamos casa grande e senzala, hoje infelizmente temos o dinheiro, muros altos e condomínios para não nos misturarmos.

O nosso preconceito sufoca não somente adultos, mas crianças que mesmo antes de nascerem, já estão fadas a falta de coerência da raça humana.

E passado tantos anos, tantos séculos parece que ainda não encontramos uma forma de deixar nosso ego e vaidade de lados em prol de um bairro, cidade, estado ou país com mais sorrisos ao invés de lagrimas.

Temos que reaprender a viver, a sentir, amar e perdoar. Temos que redescobrir nossa humanidade, mesmo que para isso, se acabe o tempo de vaidades. Para não perdemos nossa tão aclamada “racionalidade”.

Pablo Danielli

sexta-feira, 15 de junho de 2018


[Mudanças]


A mudança ocorre diariamente, às vezes demoram segundos e em outros tantos momentos horas, anos e décadas. Mas o fato é que a sociedade muitas vezes dita como complexa esta sedenta por desejos simples e muitas vezes até banais.

Almejamos um bom emprego, um bom carro e uma boa casa. Sonhamos com qualidade de transportes públicos, atendimento eficaz na saúde e segurança. Pedimos por uma cidade ideal, aonde todos independente de classe social tenha a possibilidade de lazer.

Dia após dia, as pessoas praticamente de forma robótica, participam da sociedade sem a sociedade realmente fazer parte delas. Somos um emaranhado de figuras se identidade própria, consumindo e vivendo conforme regras pré-estabelecidas.

A engrenagem está emperrada, pela má administração publica, pelo mau planejamento das cidades e pela forma passional como aceitamos os fatos que nos cercam.

Existem vários pontos de vistas, existem diversas opiniões e muitas divergências de como mudar uma sociedade com “certos valores” empregados. O que poucos pensam é que a sociedade começa com um individuo, uma pessoa, pensante ou não.

Ao invés de politica para as massas, o foco deveria ser educação ou a reeducação de cada pessoa em si. Sem duvida algum é um processo lento que tomara anos de dedicação, mas como resultado, teremos ganhos inestimáveis.



Pablo Danielli

quarta-feira, 13 de junho de 2018


[Toxina]


"Alguns desejos são impossíveis de sentir apenas pelas palavras. É necessário se permitir viver, desejar e sofrer. Porque o que corre nas veias não pode ser apenas sangue, mas há de ser... Também amor".


As paredes ásperas transpiravam o desejo e se você por acaso, há dois dias passados me pergunta-se se era amor?

Eu lhe responderia sem pensar:
Hoje não, mas amanhã e se o corpo quiser... Poder ser!

Porque o tempo de ontem, não é o mesmo de hoje e amanhã certamente vai fazer sol.
(Mesmo que você insista em chorar).

Porque o corpo não escolhe quando quer sentir, é como uma toxina e você não percebe que corre nas veias.

E quando as pernas tremem, você sente o efeito e cai... Porque o amor antes de voar, te derruba!

Mesmo que o silencio dos teus olhos insistam em me falar que não dói e que tua dor é apenas prazer.

Insiste que tocar tua pele e sentir teu suor é lavar a boca com um pedaço do paraíso.

Teu gemido é como musica que corta a solidão, à noite e o medo. Que quando chega, vai embora com todo pudor e direito de perdão. E com todos os nãos possíveis, a noite traz o dia. Mostrando seu desprezo para com o prazer impossível de se viver em poucas horas.

As marcas não são apenas de arranhões e mordidas, são na alma... Que se fazem lembrar e relembrar, por incontáveis horas. Fantasiando em um mundo particular os significados das palavras sim, não e mais. Ditos em um momento de total incompreensão, compreendidos apenas pelo desejo.

Amantes desejam a carne, poetas as letras e palavras, pessoas cobiçam a rotina, mas eu... Espero apenas mais uma vez, sentir correr nas veias, em ritmo frenético esta toxina.

Pablo Danielli

segunda-feira, 11 de junho de 2018


[A imbecilidade na forma politica.]


"A politica de hoje, é a ruína da sociedade do amanhã. A omissão das pessoas hoje... É a morte da democracia em sua forma sã. Dentre todos os regimes postos e impostos, o do silencio ainda é o que mata mais pessoas e esperança".



Um discurso bonito, um terno bem cortado, lagrima nos olhos ao falar das pessoas e seu sofrimento... Este tipo de descrição certamente deve levar sua imaginação ao mundo dos políticos. A pergunta que ecoa pelo vazio da mente, certamente é: Se o discurso é bonito, porque as suas atitudes são baratas?

"A política é constituída por homens sem ideais e sem grandeza."
Camus, Albert

O que podemos perceber é que não existem mais ideologias partidárias, direita alia-se com esquerda, e moderados fazem o acordo que bem entendem, apenas para ter uma secretaria, uma porta de entrada no governo, partidos são criados apenas para arrecadar verba publica e tempo de televisão. São como carrapatos que se alimentam da maquina governamental.

Manchetes e mais noticias são apenas para delatar casos de corrupção, acordos feitos à surdina, para conseguir mais poder, mais influencia, a politica na sua essência é um jogo de influencia e poder, o dinheiro é visto como um bônus por aqueles que estão na roda.

Ser tratado como uma espécie de salvador, todas as glorias possíveis por jogar migalhas ao povo, estar acima do bem e do mau e ter o aval da justiça para isto. E nem ao menos podemos falar que há luz no fim do túnel, porque volta e meia corremos o risco do apagão.

O país se comparado a outras estruturas politicas, pode ser considerado ainda uma pequena criança, que começa a amadurecer, temos pouco mais de quinhentos anos e talvez por isso ainda cometemos erros primários.

O Brasil hoje vive uma politica de divisão entre classes sociais, é mais fácil falar que uma classe dominante oprime outra menos favorecida, do que o governo assumir sua culpa na falta de uma boa politica social e se engana quem pensa que politica social é tirar do rico para dar ao pobre.

Nos temos cotas, nos temos impostos, nos temos propagandas governamentais que incitam o ódio entre classes e nos temos ainda mais falho que tudo, os nossos políticos com seus narizes empinados pensando que toda critica é injusta e que toda oposição é burra.

"Em política, a comunhão de ódios é quase sempre a base das amizades."
Tocqueville , Charles

Estamos em uma espécie de lodo, aonde quanto mais tentamos se envolver ou se livrar, mais acabamos por nos sujar independente da intenção ou da ação proposta. Teorias e mais perguntas são formuladas tentando encontra uma explicação logica para esse fenômeno que se apodera das pessoas que entram no circo politico.

Somente os políticos seriam corruptos ou a população de forma geral vê na politica uma forma de se beneficiar e enriquecer de forma fácil e rápida? O terno e a gravata seriam apenas uma vestimenta que nos permite mostrar a verdadeira natureza com a certeza da impunidade, ou apenas nos obrigamos a entrar no jogo?

Será que de fato estamos preparados para lidar com o poder? A palavra politica vem de tempos antigo, mais precisamente do grego Politeía, que vem da arte de dominar a organização e administração de uma nação ou estado. Significa ainda, a sociedade e sua coletividade, engloba tudo referente ao individuo, no seu intimo e no seu coletivo.

“O homem é um animal politico”.
Aristóteles

Por mais que de forma geral, falemos que não gostamos ou não queremos envolvimento com as questões politicas do país, praticamos no nosso dia a dia este ato, a politica partidária é apenas uma das mais variadas forma de exercê-la.

Que soluções seriam possíveis, que horizonte nos espera além de um próximo mandado de acordos e noticias de descaso, independente da bandeira partidária. A mudança acontece de forma lenta quase imperceptível, talvez em cem ou duzentos anos seja possível, uma organização confiável aos olhos do povo.

Acabar com a farra partidária, com as negociações e com o dinheiro que corre de forma descontrolada seria uma opção. Criar três grandes blocos políticos, esquerda, centro e direita, sem meio termo, já que os partidos hoje são feitos apenas para negociação.

Dividir o tempo de propaganda de forma igual entre os três blocos, assim evitando acordos por tempo de exibição. Limitar o teto de gastos da campanha, não é concebível que se gaste mais que trinta por cento do que o politico irá receber de salario. Certamente quando se extrapola esse limite, usara de favores ou outros meios para recupera o “investimento”.

Acabar coma imunidade parlamentar, roubo e desvio de verba, são crimes e devem ser punidos como tal. Acabar com a reeleição, mandato único de seis anos e fim do voto obrigatório, em uma democracia ser obrigado a fazer algo, é uma ditadura falsificada.

Muitas outras medidas seriam necessárias, mas com mudanças básicas grande parte da corrupção começaria ser evitada. É necessária uma mudança de comportamento da população em não apenas ver na politica uma forma de ganhar, mas sim, de agregar valor a comunidade, a sociedade de forma geral.

Politica não se trata de enriquecer, mas sim de dividir, valores morais, éticos e sociais. Uma sociedade só é justa quando todos têm os mesmos direitos e não apenas quando quem esta no poder tem o direito.

Todos têm que aprender a viver a politica e sermos políticos, independente de partidos ou do interesse que isso possa desenvolver.

“Em política, os aliados de hoje são os inimigos de amanhã.”
Nicolau Maquiavel


Pablo Danielli

sábado, 9 de junho de 2018

[Amores e corações partidos]


"O amor
A vida,
Um sonho...
Um coração inteiro
Divido por duvidas,
Que pairam no ar".


De todos os amores vividos de forma visceral, os que foram folhados em paginas de livros e apenas estes, não deixaram seu coração amargo.

Não deixaram seus lábios secos, ficando apenas uma sensação de provocação, instinto de um pobre coração pulsante, a espera de algo a mais, que suas pernas fiquem bambas e suas mãos, tremulas.

Do sol que cortava sua pele, ao entrar pela janela, cedendo uma pitada poética ao seu quarto, levemente desorganizado, mas ainda assim confortável, como seu coração... Revirado, mas a espera de confortar um novo amor.

Musicas incessantes, que insistem em lhe ensinar que lá fora e em cada esquina existe vida, vendida em pequenas bancas, estendidas em cordas, como ofertas de jornais.

Basta ter coragem suficiente de pagar o seu preço, um pouco de sorrisos, algumas lagrimas, em algum momento amores e corações partidos.

E dentro de si, bate de forma violenta a duvida:
E depois? O que será de mim?
O que resta depois do prazer, do sexo e da dor?
E seu silencio de forma simples e caótica responde:
Será o que tiver der ser e se assim tiver o direito de viver.

O mundo conspira contra você, que se quer abriu a porta do quarto. Respirou ar novo, soltou o velho por entre as lembranças, buscou novas palavras... Esperança vendida em pequenos frascos, leves e rasos, oriundos de alguma parte do velho mundo.

A insanidade do relógio insiste no passar das horas, o tempo para algumas memórias soa como castigo e você prefere trancar em algum canto escuro da história. Seus pés tocam o chão, puxando o peso do seu corpo para a realidade confusa, que brinca com sua vida sem parar.

Você deseja tornar a deitar, viver sem o gosto da boca seca, sem precisar cobiçar, mas a vida que bate em sua porta, insiste, persiste em lhe chamar, tentando lhe iludir de que seus olhos irão se encantar, quando novamente e mesmo perdida, você tornar a amar.

Pablo Danielli

quinta-feira, 7 de junho de 2018


[Desbotar]

O desbotar do entardecer, se mistura com as cores avermelhadas e tons frios do inverno. Adentrando o corpo com certo ar de saudades, de nostalgias e lembranças muitas vezes inventadas, de manhas e tardes que ainda espera sentir.

Respirava em forma de vida os pensamentos e desejos, chegando a inevitável conclusão de que a vida é nada mais que um amontoado de eternos momentos.

Nem sempre tristes e nem sempre felizes. Soava em forma de eco dentro de si, uma pequena fração da resposta que batia insistentemente, acompanhando seu coração em forma de ansiedade.

Aquilo que por vezes buscava e escorria por entre seus olhares, que o vento ousava em trazer de volta apenas para anestesiá-la... A paz em forma de sentimento, de sons e sensações, que arrebata, recarrega o vazio que insistia em se fazer presente.

Que sorte tem o ser humano em ser, em sentir e em querer... Os segundos, as horas, o tempo contado a gotas coloridas, doses letais de vida correndo nas veias. Encontra-se dentro de si mesma, e encontrar em outros, alguns motivos para sorrir e seguir.

Entre alguns tropeços estar ali sentada talvez fosse a melhor queda que já poderia ter experimentado, um quadro exposto a sua frente com todos os destinos possíveis e impossíveis de se querer.

Volta tuas mãos para o mundo e toca o invisível que divide com tantos outros sonhadores, correntes que se quebram com o sonhar, laços que se desatam com o desejo, flores que brotam no caminho com o caminhar e o passar do tempo.

Pisca os olhos uma vez mais, deixa a brisa lentamente tocar tua pele, entorpecida pela energia que o por do sol lhe causou... Prepara aos poucos tua alma para partir, assim como teu corpo, para sentir algo novo, que ainda não lhe foi apresentado, talvez um novo sorriso, uma nova lagrima, quem sabe se tiver sorte, um quase amor.



Pablo Danielli

terça-feira, 5 de junho de 2018


[Anacrônico]

Aparou as arestas que a vida insistia em lhe fazer sobrar, forrou o chão com recortes de lembranças que desejava esquecer, mesmo que isso significasse alguns segundos de paz.

Respirou uma, duas, três vezes... Roubando o ar de toda terra para si, mostrando ao mundo que aquele momento era apenas dela e de mais ninguém. Não haveria substancia magica ou palavra escrita que a fizesse mudar de ideia, de rumo ou de sorte.

No jogo da vida, os dados ao rolarem na mesa, hora davam números pares e em alguns momentos cambaleavam quase bêbados números impares... Fazendo dar um pouco de sentido a bagunça quase perfeita, que eram seus romances e sua vida.

Arrastava seus pés para além da terra de sua imaginação e sonhava com dias anacrônicos, para ser a gota de cor no meio de uma multidão perfeita com suas vidas feitas de cristal.

O que cheirava a velho e antiquado como seus livros, tinham mais valor... Parecia que cada pagina compunha um pedaço de sua vida, cada passar de mão por capas, fazia se sentir mais inteira e mais forte.

Dentro de seu pensar, além de seus segredos íntimos, estavam à fonte de toda sua força, escondido quase sufocado pelo dia a dia, lá aonde não se poderia tocar, estava sua imaginação.

Não estava pronta para sentir uma vida, com textos de romantismo apelativamente baratos, desejava o requinte de ser única, o glamour de só ela saber, como é se sentir de uma forma desesperadamente viva.

Capturar na retina, a imagem delirante que apenas uma alma capaz de entrar em ebulição pode sentir. Enquanto algumas buscam o ar de purificação, ela diferentemente, gostaria de sentir todos os pecados do mundo. E para isso, sabia que além de viver, é necessário abrir os olhos.

Pablo Danielli

segunda-feira, 4 de junho de 2018



[Vida] 



Quantos sonhos, 

São perdidos no sofá? 

Quantos motivos, 

São necessários para sair da cama? 

Qual programa de tv, 

Da sentido a sua vida? 

Qual a pílula, 

Que você toma... 

Para ser feliz? 

Você pode tirar 

As pilhas do relógio, 

Fechar as cortinas do quarto, 

Piscar, pra ver se a vida passa... 

Mas não consegue evitar, 

Que o tempo corroa as lembranças. 

Não consegue fugir 

Do encontro das dúvidas, 

Com o vazio da mente. 

Quantos desejos são necessários, 

Pra fazer o dia nascer? 

É sorte ou azar... 

Estar do lado errado da corrente? 

E quando não restar à quem culpar? 

Quando a desculpa se tornar verdade, 

A mentira perde o sentido? 

E quando restar apenas você 

Despido, vestido apenas de instintos... 

Irá sobreviver ou sucumbir, 

Ao amanhecer? 

Pablo Danielli

domingo, 3 de junho de 2018


[A deriva]

Os olhos grandes e negros olhavam fixamente para o espelho, buscando como em uma ultima tentativa encontrar ao menos um pequeno fecho de luz. Mas o anoitecer ao que parece, muda não só o dia, mas a sensação de vida dentro si mesmo.

Esperava há muito tempo por uma resposta, um sinal... E em meio à cidade feita de um mar de concreto e sujeiras, nenhum farol para indicar o caminho, apenas mais um corpo a deriva, a espera, a espera...

Do alto do seu reino de poucos metros quadrados, era capitão de si mesmo e um naufrago, do que diz respeito a sua vida. Ao desviar seu olhar para a janela percebe que seu corpo esta pesado e sua garganta não ousa dizer uma palavra se quer.

O peso dos sentimentos que nunca foram colocados a prova faziam se afogar lentamente, um fardo que o puxava cada vez mais para o fundo e não era capaz de largar tudo aquilo. Ao que parece todos temos nossas pequenas riquezas para se apegar em um momento de quase vida.

Os braços lentamente se moviam, em um movimento quase que sutil de quem não tem muita força dentro si, abrindo lentamente a janela na esperança de que o vento lhe traga um sopro de vida, embora demonstre receio no que possa sentir.

Uma voz absurdamente sedutora rasga o silencio do seu pensar, mesmo sendo quase impossível de outras pessoas ouvirem, um grito de socorro em forma de pedido lhe é feito:

- Volta para a cama! Volta para a cama!

Vira seu corpo em direção à voz e pensa consigo mesmo questionando, se isto era um pedido de alguém que tem medo da solidão ou apenas de quem quer ter um pouco mais de prazer mesmo sem compreender o quão profundo aquele gesto possa significar.

Mal sabia nadar no mar de suas emoções e teria que servir de bote salva vidas para mais uma pessoa, ironicamente a sua única conquista naqueles dias frios e de tempestade dentro do seu corpo.

Os passos que fizeram o trajeto, pareciam desbravar aquilo que a muito tempo parecia perdido e confuso, de forma quase que mecânica fechava seus olhos na esperança de se mostrar forte o suficiente para servir de porto.

Em um abraço aonde mais parecia que dois corpos tentavam se envolver para não serem atingidos pela fúria da cidade, a carne era pressionada quase unindo as duas almas.

Naquela noite ambos pareciam estar a salvos, naquelas horas que precediam mais um dia, suas aflições pareciam domadas, poderiam quem sabe ter forças para mais um mergulho no intimo de seus desejos, tentando ao menos por um momento, fugir da escuridão.

Pablo Danielli

sexta-feira, 1 de junho de 2018


[Olhares perdidos]

Entrelaçado com olhares perdidos, a liberdade perde o sentido quando se está sutilmente preso a um desejo. Embora bocas quando sentem somente se calam e fazem todo ar ser raro nos pulmões.

Quanto mais o desejo toma conta das mãos tremulas, o corpo fica embriagado e a mente fica trocando passos com as idéias, um lento e demorado ritual aonde não existe pudor, apenas vida.

O corpo escorrega pelo tempo e os segundos são como pequenos instantes que não se podem ser guardados em fotografias, a memória insiste que apenas ela possua tal prazer e não mais, os olhos.

Não há luz e a escuridão tão pouco se faz presente, apenas seu lábios, vermelhos e contendo toda carne que um homem pode desejar tocar. Viciantes e mortais e tão leves quanto o vento, que cortam tudo que toca deixando marcas, que não se podem ver.

Lentamente os olhos piscam, lentamente as mãos se movem, aos poucos os pés dominam o espaço que lhe é permitido. Como uma pancada inesperada o mundo torna a girar, o som e as sensações rotineiras e tão mortais quanto um veneno a conta gotas preenchem o ambiente.

Mas todo o espaço que ocupa com sua beleza continua intocável, como se nada pudesse abalar, uma mulher absolutamente devastadora. Cujo único mal que faz é deixar homens aos seus pés.

Puxo o ar lentamente tentando recuperar o fôlego, por um instante que não seria para sempre, que não seria mais que alguns segundos de absoluta felicidade.

Corro minhas mãos pelo balcão, seus olhos acompanham em um movimento sutil imperceptível a outras pessoas. Encosto meus dedos em um copo, aonde tendo buscar em meio à bebida, um não motivo para simplesmente tentar.

Sem perceber, dou-me conta que minha mente me trai e agora observo apenas suas costas, que revelam pouco, mas que a fazem desejar, seus passos lentamente carregam minhas vontades para longe.

Transformando toda tensão e imaginação em apenas mais um lugar, mais uma noite e mais um quase amor, que o tempo, o desejo e o momento, quase deixaram estar.

Pablo Danielli

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